Em 1877, o filósofo alemão Ernst Kapp publicou “Grundlinien einer Philosophie der Technik” (Elementos para uma Filosofia da Tecnologia, em tradução livre), onde apresentou a ideia de que os artefatos técnicos representam extensões do ser humano. Por exemplo, o martelo seria uma projeção do punho, a pinça, dos dedos e os cabos dos telégrafos seriam como nosso sistema nervoso.
Quando falamos de ferramentas mais simples, é fácil descrevê-las como projeções ou extensões de partes do corpo humano. Mas e equipamentos modernos, como computadores? O jovem Steve Jobs, no surgimento dos computadores pessoais, descrevia-os como “bicicletas para a mente”, que permitiam aos seres humanos irem mais longe e mais rápido do que usando as próprias pernas.
Essa ótica hegeliana, que vê a história humana como o processo pelo qual a essência humana se objetiva no mundo, utilizada por ambos, me fez ver o processo de personalização do Linux de outra forma, que explicarei logo abaixo.
Extensão e Espelho
A ideia da tecnologia como extensão e projeção do ser humano é simples e poderosa, porém Kapp também vê a tecnologia como meio e espelho para o nosso autoconhecimento. Ou seja, só podemos nos compreender ao vermos nossa imagem objetivada nos artefatos por nós criados.
A introspecção e o estudo do comportamento humano não são suficientes para compreendermos a natureza humana. Precisamos estudar os produtos do trabalho humano e seus artefatos técnicos.
Linux Ricing e o autoconhecimento
Ao instalar um sistema operacional e começar a moldá-lo como desejamos, estamos criando um artefato técnico que nos espelha e nos ajuda a nos conhecer. Cada decisão tomada, cada pacote instalado é uma pergunta que fazemos a nós mesmos, e seu resultado, sua forma, é uma resposta sobre a nossa própria natureza.
De certo modo, moldamos nosso artefato e ele nos molda, projetamos e estendemos nossas capacidades e nos conhecemos durante este processo. Este é o sentimento estranho e difícil de explicar que tenho quando estou fazendo ricing.
Devo apenas tomar cuidado para que este processo me revele e não distorça minha autoimagem.